A publicação da aguardada Encíclica Laudato Si, do Papa Francisco, teve ampla repercussão na imprensa internacional. Apresentamos alguns dos comentários e artigos em algumas mídias.
Não houve uma chuva ácida de comentários sobre a Encíclica Laudato Si, mas sim uma torrente de elogios, afirmou o jornalista Jean-Marie Guénois no “Le Figaro”. Mesmo que o Papa tenha usado palavras duras contra os sistemas políticos a serviço dos interesses do poder econômico-financeiro global, não poupou também os jornalistas, muitas vezes distantes da realidade e da vida das pessoas comuns, escreve Pablo Ordaz no diário espanhol “El País”. É necessário uma revolução cultural para salvar o planeta, afirma por sua vez o argentino “Clarín”, enquanto na Folha de São Paulo, Flávia Foreque destaca que o próprio conceito de progresso deve ser redefinido para tutelar o ambiente.
A Encíclica é uma dura crítica ao consumismo e uma advertência profética sobre o perigo de ignorar a crise ecológica, escreve Justin Gillis, no “International New York Times”. O Papa conseguiu indicar para a ciência o justo caminho? A esta pergunta, os especialistas do clima e do ambiente respondem afirmativamente: neste caso o Papa parece ter se desdobrado para oferecer uma interpretação prudente dos fatos científicos. Alguns cientistas sustentam que foram as emissões ligadas à atividade do homem que provocaram o aquecimento global. Todavia, na Encíclica, - escreve Gillis – o Papa não vai tão longe, citando vulcões, o sol e outros fatores que podem influenciar as mudanças climáticas, mas antes reconhece que grande parte do aquecimento global durante os últimos decênios é devido à grande concentração de gás estufa lançado na atmosfera pela atividade humana. O artigo chama a atenção para o fato de que quando o texto da Encíclica passa do elenco de dados científicos para as avaliações de mérito, a linguagem é mais desmedida. Sobretudo quando o Santo Padre denuncia que são os mais pobres a carregar o peso mais grave dos efeitos da poluição.
Em outro artigo do “International New York Times”, Coral Davenport escreve que enquanto ambientalistas foram unânimes em elogiar o documento e as finalidades que o inspiram, alguns dos conteúdos tratados dão espaço a diversas avaliações, antes de tudo junto àqueles que nas Nações Unidas estão há tempos negociando sobre o clima. A este respeito, é citado Robert Staveins, diretor do programa ambiental na Universidade de Harvard, que afirma partilhar o apelo do Papa na necessidade de agir com urgência para evitar acontecimentos piores, mas ao mesmo tempo, observa que algumas políticas de mercado em relação às mudanças climáticas deveriam se promovidas, devido à sua eficácia. E faz referência ao imposto sobre emissões originadas de combustíveis fósseis, conhecida simplesmente como ‘eco-taxa’, e à estratégia cap-and-trade systems, que busca controlar a poluição através de incentivos econômicos voltados a reduzir a taxa de emissões originadas de agentes poluidores. Davenpont salienta, após, como o Papa nunca perde de vista a ligação entre pobreza e fragilidade do planeta. E disto, a denúncia do fato que as dramáticas consequências dos ataques do homem à natureza recaem em primeiro lugar e em medida maciça sobre os indigentes.
O “The Wall Street Journal” dedicou o artigo de abertura assinado por Francis X. Rocca à Encíclica. A condenação de Francisco – sublinha o jornal estadunidense – investe plenamente o capitalismo, que para salvaguardar e reforçar o próprio lucro, não tem escrúpulos em oprimir os mais pobres e desfavorecidos.
O artigo de John Hooper no “The Guardian”, diz que o primeiro mérito da Encíclica está em ter atribuído a justa importância a uma questão deixada muito tempo à margem. Com este documento – sublinha o cotidiano – Francisco trouxe uma mudança “imensamente tonificante”. Se está diante da primeira Encíclica, escreve Hooper, inteiramente dedicada às questões ambientais, mesmo que não tenha sido a primeira vez que um Papa fale com força sobre a destruição do ambiente. E o pensamento é voltado à Paulo VI que, em 1971, descrevia tal destruição como a “trágica consequência” de uma atividade humana sem controle. Assim como João Paulo II e Bento XVI levantaram a voz em defesa das belezas da criação seriamente ameaçadas por interesses egoístas e por uma ânsia de progresso e desenvolvimento desprovida de regras morais e normas éticas. Mas – revela Hooper – mais do que qualquer outro predecessor, Francisco aponta o dedo contra as atividades humanas como responsáveis pelos males que afligem o planeta.
No site da BBC, lê-se que com esta Encíclica, o Papa se confirma como líder no panorama internacional comprometido em indicar à humanidade as justas vias a serem seguidas para se chegar ao bem comum: objetivo que passa, necessariamente, pelo respeito e o cuidado do ambiente.
O “The Times”, por sua vez, destaca como o Papa Francisco parte de uma espécie de discurso antropológico para construir a sua argumentação em defesa da saúde do planeta. Mais além de fundamentais avaliações de ordem técnica e logística em relação às causas das mudanças climáticas, o que está no coração do Papa é imperativo, transmitir ao mundo a necessidade em mudar o estilo de vida, condição inelutável caso se queira realmente salvaguardar a terra e todos os seus tesouros.
No “Corriere dela sera”, Gian Guido Vecchi sublinha que o “Papa Francisco na Encíclica, denuncia “a raiz humana” da crise ecológica de nosso tempo e chama em causa a financeira: “o salvamento a todo custo dos bancos, fazendo a população pagar o preço, sem a firme decisão de rever e reformar todo o sistema, afirma um domínio absoluto das finanças que não têm futuro e que poderá somente gerar novas crises após uma longa, custosa e aparente cura”. Elencados os problemas do planeta, como o aquecimento global e a perda da biodiversidade – continua o artigo – o Papa sugere “algumas linhas de orientação e de ação”. Existem sugestões que valem para todos, mas, sobretudo, existe o problema de uma governança de problemas globais, sublinha o cotidiano de Milão.
Enzo Bianchi, no “La Reppublica”, escreve que “Francisco se dirige a todos, como fez João XXIII, Papa santo e profeta, com Pacem in terris, quando a publicou dedicando-a a “todos os homens de boa vontade”. Neste modo – acrescenta, o Papa traça um paralelo entre a trágica ameaça da guerra ao início dos anos sessenta, enquanto o mundo vacila na esteira de uma guerra nuclear”, e a “deterioração global do ambiente” que estamos provocando, “degradação” já denunciada como dramática e arauto de uma possível “catástrofe ecológica” de Paulo VI na sua carta Apostólica.
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