Neste 1º de setembro, que marca o início do Mês da Bíblia 2020 na Igreja no Brasil, o secretário-geral da CNBB concedeu entrevista ao portal da CNBB. Na entrevista, dom Joel fala da necessidade de a Bíblia estar disponível, em diferentes formatos, para as pessoas. Contudo, o maior desafio para dom Joel é fazer a palavra de Deus chegar ao coração e à vida.
Dom Joel fala também do esforço que a CNBB está fazendo para que a palavra ocupe a centralidade na vida das comunidades eclesiais missionárias, como defende as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (2019-2023).
“A Igreja no Brasil já deu alguns passos. Um deles é o Documento nº 108 da CNBB (Ministério e Celebração da Palavra). Outro passo importante é o tema central da 58ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que deveria ter ocorrido esse ano, mas, por causa da pandemia, foi transferida para 2021. Cujo tema, inspirado nas Diretrizes Gerais, é ‘o Pilar da Palavra’, compreendido em sentido amplo, ou seja, como uma verdadeira animação bíblica da vida e da pastoral”, disse.
Acompanhe, a seguir, a íntegra da entrevista.
a) Qual o esforço que a CNBB está fazendo para que a Palavra ganhe centralidade na vida das comunidades eclesiais missionárias?
A Palavra de Deus já possui centralidade na vida da Igreja. Ela está presente, por exemplo, na liturgia, nas reuniões de grupo, na iniciação à vida cristã e em muitas outras ocasiões. O atual momento pede centralidade maior, ou seja, que não nos contentemos com o que já vem sendo feito, mas que avancemos ainda mais. Esse avanço tem algumas direções bem específicas.
A primeira delas diz respeito a que cada pessoa tenha a Bíblia e, mais ainda, tenha contato com a Bíblia, alimentando-se da Palavra de Deus onde estiver. A Bíblia atualmente pode ser levada até mesmo num celular. Importa que as pessoas passem do celular para o coração e para a vida. Ajuda-nos muito a entender isso o relato de Atos 8,26-39, em que o apóstolo Felipe é enviado ao encontro de um homem que até tinha o texto bíblico nas mãos. Só que lhe faltava, como ele próprio diz a S. Felipe, que não entendia porque não tinha quem lhe explicasse. O relato diz que S. Felipe cumpriu essa missão: abriu a mente e o coração daquele homem.
Em segundo lugar, a Palavra de Deus precisa ser ainda mais o centro da vida das pequenas comunidades eclesiais missionárias. Essas comunidades costumam se reunir semanalmente para rezar e planejar atividades pastorais e de caridade. E é nesse conjunto de atividades que deve ser inserida a Palavra de Deus. A leitura do texto bíblico não pode ser opcional nem apenas um momento breve dentro da reunião do grupo. Precisa ser um dos momentos mais importantes. É preciso ler a Palavra de Deus e trazer para a vida. É preciso fazer isso em grupo e, com isso, aprender a fazer individualmente.
Para tanto, a Igreja no Brasil já deu alguns passos. Um deles é o Documento nº 108 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (Ministério e Celebração da Palavra). Outro passo importante é o tema central da 58ª Assembleia Geral da CNBB, que deveria ter ocorrido esse ano, mas, por causa da pandemia, foi transferida para 2021. Cujo tema, inspirado nas Diretrizes Gerais, é “o Pilar da Palavra”, compreendido em sentido amplo, ou seja, como uma verdadeira animação bíblica da vida e da pastoral.
b) Como foi o teu primeiro contato com a Palavra de Deus?
Foi em família com os meus pais. Primeiro foi meu pai. Ele gostava muito de ler e sempre me estimulou a ler. Nos domingos, íamos ao jornaleiro e, além da revista infantil, meu pai comprava para mim um fascículo da bíblia. Naquela época, era comum comprar fascículos a cada semana e ir montando os livros. Ao chegar em casa, meu pai lia comigo um trecho e me pedia para explicar.
Ainda hoje, passado tanto tempo, eu me recordo da pergunta que ele sempre me fazia: o que isso quer dizer para você? Eu me recordo quando li o relato da criação do mundo, com Adão e Eva. Quando meu pai me perguntou o que eu tinha entendido, eu apenas repeti o texto e ele disse, lembro-me bem, “por hoje está bom, mas precisa melhorar”. Eu devia ter uns nove anos. Com a morte de meu pai, minha mãe continuou com o mesmo hábito.
Depois, no grupo de jovens, tínhamos verdadeira sede de conhecer a Bíblia, entender os textos. Também no seminário, tínhamos semanalmente, com o diretor espiritual, o que hoje chamaríamos de leitura orante da bíblia. Foram momentos muito importantes para mim.
c) Qual o grande recado esse ano que quer dar o Mês da Bíblia com o estudo e reflexão do livro de Deuteronômio?
O Deuteronômio é um livro muito rico. Tenho, porém, a impressão de que, como livro, não é muito conhecido. Conhecemos trechos, importantes, sem dúvida, mas trechos. Para mim, o primeiro desafio será, portanto, conhecer a grande proposta do livro que hoje temos em mãos.
Este livro é fruto de uma grande reforma religiosa, num tempo de mudanças, tempo que pode ser comparado ao nosso, respeitadas, é claro, as devidas proporções. Na história desse livro, tem o fato de se ter encontrado, durante a restauração do templo, um rolo da lei, da Torah. Creio que esse fato seja importante por nos desafiar a reencontrar a Palavra de Deus num tempo tão confuso como o nosso e, no contato com ela, reorganizar a vida pessoal e social.
Em segundo lugar, o Deuteronômio é um convite a abrir os ouvidos e o coração (Escuta, ó Israel) e perceber o quanto Deus fez em favor do seu povo. Com esse reconhecimento, a desesperança por causa das dificuldades perde a sua força e a fidelidade a Deus, aos mandamentos da lei de Deus, assume o primeiro lugar nas preocupações. É, pois, um convite à fidelidade que brota do reconhecimento de que Deus nunca nos abandona. Essa é uma mensagem que precisa ser dita e acolhida.
FONTE: CNBB
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