A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) emitiu, como resultado da reunião realizada nesta quarta-feira, 25 de novembro, uma Mensagem ao Povo Brasileiro em tempo de pandemia. O documento foi referendado pelos mais de 200 bispos, num total de 297 pessoas, compreendendo assessores das comissões episcopais e representantes de pastorais e organismos vinculados à CNBB que participaram da reunião.
A mensagem busca refletir sobre a presença e missão da Igreja na realidade
brasileira e expressar uma mensagem de esperança e proximidade no contexto do
novo Coronavírus. O documento destaca ainda que a Igreja no Brasil é impelida a
perseverar na caridade, dando continuidade, nas paróquias, comunidades
eclesiais missionárias e instituições religiosas de todo país, das redes de
solidariedade em defesa da vida que se multiplicaram-se neste ano em razão da
pandemia.
Mensagem ao Povo de Deus em tempo de pandemia
Amado Povo de Deus, nós bispos do
Brasil, reunidos num encontro virtual para refletir sobre a atual presença e
missão da Igreja, queremos expressar nossa mensagem de esperança e proximidade.
Neste ano irrompeu inesperadamente a
pandemia da COVID19, alterando nossas rotinas, revelando outras enfermidades de
nosso tempo e causando grande impacto num já fragilizado sistema de saúde, na
seguridade social, nos sistemas produtivos, na educação, na vida familiar, social
e religiosa em geral. O Papa Francisco alerta que “a tribulação, a incerteza, o
medo e a consciência dos próprios limites, que a pandemia despertou, fazem
ressoar o apelo a repensar os nossos estilos de vida, as nossas relações, a
organização das nossas sociedades e, sobretudo, o sentido da nossa existência”.
(Fratelli Tutti, 33)
Estamos num tempo de muitos
questionamentos e cabe-nos escutar o que o Espírito tem a dizer para a Igreja
(Ap 2,7) nesse contexto. A provação tem favorecido importantes aprendizados e
oportunidades para a vivência e o anúncio do Evangelho. Reconhecemos, com
gratidão, o empenho de tantas comunidades cristãs que foram criativas para
manter a ação evangelizadora, especialmente pelas mídias sociais, promovendo a
transmissão de celebrações litúrgicas, catequeses e aconselhamento aos fiéis. A
Igreja doméstica foi fortalecida, em sintonia com as Diretrizes Gerais da Ação
Evangelizadora, que promovem a comunidade cristã como Casa da Palavra, do Pão,
da Caridade e da Missão. Percebe-se o protagonismo dos leigos e, especialmente,
das mulheres na promoção da Igreja nas casas.
Igualmente somos impelidos pelo
Evangelho a perseverar na caridade. Nas paróquias, comunidades eclesiais
missionárias e instituições religiosas de todo país, multiplicaram-se as redes
de solidariedade em defesa da vida. Por isso, foi coloca em prática a ação
solidária É Tempo de Cuidar, voltada a atender demandas de primeira necessidade
das pessoas que se encontram em situação de vulnerabilidade social no contexto
da pandemia. Unidos a outras entidades da sociedade civil, estamos buscando
concretizar o Pacto pela Vida e pelo Brasil, conclamando toda a sociedade para
que, nesse tempo de pandemia, ninguém seja deixado para trás.
Como nos tem provocado o Papa
Francisco, precisamos escutar o clamor das famílias, trabalhar por uma economia
“mais atenta aos princípios éticos” (Fratelli Tutti, 170), oferecer uma
política melhor, sem desvios na garantia do bem comum, propor uma educação
humanista e solidária, comprometidos na permanente construção da democracia. É
urgente combater o racismo que se dissimula, mas não cessa de reaparecer.
(Fratelli Tutti, 20) Queremos assegurar a vida desde a concepção até a morte
natural, preservar o meio ambiente e trabalhar em defesa das populações
vulneráveis, particularmente indígenas e quilombolas. Preocupa-nos o
crescimento das várias formas de violência, entre elas, o feminicídio. “Cada
ato de violência cometido contra um ser humano é uma ferida na carne da
humanidade; cada morte violenta “diminui-nos” como pessoas”. (Fratelli Tutti,
227)
Como discípulos missionários,
queremos crescer nesse tempo difícil, empenhados em remover as desigualdades e
sanar a injustiça. A humanidade aguarda uma vacina que, distribuída com
equidade, possa ajudar a garantir a vida e a saúde para todos.
Pedimos que Deus acolha junto a Si os
que morreram neste tempo e dê consolação e paz às famílias enlutadas.
Abençoamos especialmente os incansáveis profissionais da saúde, os professores,
os cuidadores e todos que atuam em serviços essenciais. Nossa prece também
pelos presbíteros, diáconos permanentes, consagrados e consagradas, leigos e
leigas de nossas igrejas, para que se sintam encorajados.
O Advento é um tempo de renovar nossa
esperança. Confiantes, afirmamos que a fé em Cristo nunca se limitou a olhar só
para trás nem só para o alto, mas olhou sempre também para a frente (Spe Salvi,
41). Não desanimemos, não estamos sozinhos: o Senhor está conosco!
Acompanhe-nos a Santa Mãe de Deus,
Senhora Aparecida, consolo dos aflitos, saúde dos enfermos e esperança nossa!
Invocamos sobre todos a bênção da Santíssima Trindade, que sua misericórdia
continue fortalecendo e animando o povo brasileiro.
Brasília-DF, 25 de novembro de 2020
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