Todos os anos, no tempo da Quaresma, somos chamados por
Deus a trilhar um caminho de verdadeira e sincera conversão, redirecionando
toda a nossa vida para Ele, que “amou tanto o mundo, que deu o seu Filho único,
para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 16). Ao preparar-nos para a
celebração dessa entrega amorosa na Páscoa, encontramos na oração, na esmola e
no jejum, vividos de modo mais intenso durante este tempo, práticas
penitenciais que nos ajudam a colaborar com a ação do Espirito Santo, autor da
nossa santificação.
Com o intuito de animar o povo fiel nesse itinerário ao
encontro do Senhor, a Campanha da Fraternidade deste ano propõe que voltemos o
nosso olhar para os nossos irmãos mais necessitados, afetados pelo flagelo da
fome. Por outro lado, descartam-se toneladas de alimentos. Isto constitui
um verdadeiro escândalo. A fome é criminosa, a alimentação é um direito inalienável”
(Discurso no encontro com os Movimentos Populares, 28/X/2014)
A indicação dada por Jesus aos seus apóstolos
“Dai-lhes vos mesmos de comer” (Mt 14, 16) é dirigida hoje a todos nós, seus
discípulos, para que partilhemos – do muito ou do pouco que temos – com os
nossos irmãos que nem sequer tem com que saciar a própria fome. Sabemos que
indo ao encontro das necessidades daqueles que passam fome, estaremos saciando
o próprio Senhor Jesus, que se identifica com os mais pobres e famintos: eu
estava com fome, e me destes de comer… todas as vezes que fizestes isso a um
destes mais pequenos, que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes” (Mt 25,
35.40).
É meu grande desejo que a reflexão sobre o tema da fome,
proposta aos católicos brasileiros durante o tempo quaresmal que se aproxima,
leve não somente a ações concretas – sem dúvida, necessárias – que venham de
modo emergencial em auxilio dos irmãos mais necessitados, mas também gere em
todos a consciência de que a partilha dos dons que o Senhor nos concede em sua
bondade não pode restringir-se a um momento, a uma campanha, a algumas ações
pontuais, mas deve ser uma atitude constante de todos nós, que nos compromete
com Cristo presente em todo aquele que passa fome.
Desejo igualmente que esta conscientização pessoal ressoe
em nossas estruturas paroquiais e diocesanas, mas também encontre eco nos
órgãos de governo a nível federal, estadual e municipal, bem como nas demais
entidades da sociedade civil, a fim de que, trabalhando todos em conjunto,
possam definitivamente extirpar das terras brasileiras o flagelo da fome.
Lembremo-nos de que “aqueles que sofrem a miséria não são diferentes de nós.
Têm a mesma carne e sangue que nós. Por isso, merecem que uma mão amiga os
socorra e ajude, de modo que ninguém seja deixado para trás e, no nosso mundo,
a fraternidade tenha direito de cidadania” (Mensagem para o Dia Mundial da
Alimentação, 16/X/2018, n. 7) .
Confiando estes votos aos cuidados de Nossa Senhora
Aparecida e como penhor de abundantes graças celestes que auxiliem as
iniciativas nascidas a partir da Campanha da Fraternidade, concedo de bom grado
a todos os filhos e filhas da querida nação brasileira, de modo especial
aqueles que se empenham incansavelmente para que ninguém passe fome, a Benção
Apostólica, pedindo que continuem a rezar por mim.
Roma, São João de Latrão, 21 de dezembro de 2022.
Franciscus
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